Pai de trigêmeas, concebidas via FIV (
Fertilização in Vitro), o dr. Vamberto Maia Filho é dono de respeitável trajetória na área: foi o primeiro residente em reprodução humana do
Brasil e integrou a equipe responsável pelo nascimento do primeiro bebê
gerado por FIV pelo SUS, em Recife.
Pernambucano natural de Recife, sua família tem forte ligação com a saúde: o pai é médico, a mãe engenheira civil e a irmã caçula é pediatra. Esse histórico familiar o motivou a se tornar ginecologista especializado em reprodução humana. Doutor pela UNIFESP, acumula 11 anos dedicados ao ensino em ginecologia endócrina, com ênfase em pesquisa científica.
Ele mantém consultórios em Recife e em São Paulo, onde
expõe retratos de mães felizes com os filhos, frutos dos partos que ajudou a
concretizar. No atendimento a casais inférteis, além de minuciosa investigação clínica, ele valoriza o
histórico de vida e os aspectos
emocionais de cada paciente. “Sou apaixonado por betas positivos. Vibro com a
tentante a gestante quando a gravidez é confirmada”, revela.
Abaixo, ele esclarece as principais
dúvidas de quem enfrenta a infertilidade:
P: Por que tem aumentado a gestação pós 40 anos?
R: Enumero alguns fatores: busca de estabilidade profissional, realização
de projetos pessoais ou desejo de se
sentirem mais preparadas para a maternidade. Dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de mulheres que se tornam
mães após essa idade cresceu cerca de 90% entre 1998 e 2018, passando de 48.402
para 91.212.
P: Em que idade se inicia o processo de redução
da fertilidade?
R: A partir dos 35 anos há uma
queda significativa na reserva ovariana e na qualidade dos óvulos, o que reduz
as chances de uma concepção natural. Por isso, muitas mulheres acima dos 40
anos recorrem a tratamentos de reprodução assistida.
P: Quais os principais riscos e desafios da gestação da mulher madura?
R: A gravidez pode ser absolutamente
saudável, mas exige cuidados redobrados. É fundamental que essas mulheres
estejam bem informadas e acompanhadas por profissionais especializados. Uma
gestação mais segura e tranqüila exige cuidados essenciais.
P: O avanço da idade traz chances de complicações?
R: Pode ocasionar problemas como diabetes
gestacional, hipertensão, pré-eclâmpsia e restrição de crescimento fetal. Um
estudo realizado no Hospital das Clínicas revelou que a incidência de diabetes
gestacional e doença hipertensiva específica da gestação, em mulheres com 40 anos ou mais, foi de 14,6% e 19,6%, respectivamente. Para
monitorar esses riscos e agir preventivamente, é recomendável o acompanhamento médico mais frequente e
detalhado.
P: Qual a porcentagem de problemas na
saúde reprodutiva feminina e masculina? Cite a causa mais comum da infertilidade.
R: A infertilidade pode ter origens tanto
femininas quanto masculinas. Estima-se que aproximadamente 40% dos casos sejam
devidos a fatores femininos, 40% a fatores masculinos e 20% a causas combinadas
ou desconhecidas. Nas mulheres, são comuns problemas de ovulação, como a Síndrome dos
Ovários Policísticos (SOP), endometriose e obstruções nas trompas de falópio.
Nos homens, a varicocele é uma causa frequente, afetando a qualidade dos
espermatozoides.
P: A
ansiedade é uma das vilãs da vida de quem passa por processos de fertilizaçao?
R: Sem dúvida. É preciso lidar com o
diagnóstico, frustrações, gastos para tratamento e escolhas, por isso a
ansiedade é inevitável e exige
atendimento personalizado e
humanizado. Para que o processo seja
mais leve, a paciente deve
contar com uma rede de apoio
emocional.
P: Existe esperança para todas as
mulheres inférteis?
R: Jamais devemos perder a esperança. Embora nem todas as
causas de infertilidade tenham solução definitiva, os avanços na medicina
reprodutiva oferecem diversas opções de tratamento. Técnicas como a Fertilização
in Vitro (FIV) e a Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) têm
possibilitado a gravidez em muitos casos antes considerados desafiadores. Além
disso, o congelamento de óvulos tem se mostrado uma alternativa eficaz para
preservar a fertilidade feminina.
P: Quais os últimos avanços científicos e tecnológicos
na área de reprodução humana?
R: Recentemente, a medicina reprodutiva
tem incorporado técnicas avançadas, como:
Teste Genético Pré-implantacional (PGT): permite a análise genética dos
embriões antes da transferência para o útero, aumentando as chances de uma
gestação saudável.
Vitrificação de óvulos e embriões: essa técnica de congelamento
ultrarrápido melhora a taxa de sobrevivência dos óvulos e embriões após o
descongelamento.
Uso de inteligência artificial: aplicada na seleção de embriões,
auxiliando na identificação daqueles com maior potencial de implantação.
P: Explique as diferenças
entre as técnicas de reprodução assistida: FIV e inseminação artificial.
R: Fertilização in Vitro (FIV): consiste na coleta de óvulos e
espermatozoides para fertilização em laboratório. Após a formação dos embriões,
estes são transferidos para o útero da mulher. É indicada em casos de obstrução
tubária, endometriose severa ou fator masculino grave.
Inseminação Artificial (IA): também conhecida como
inseminação intrauterina, envolve a introdução de espermatozoides previamente
selecionados diretamente no útero durante o período ovulatório. É recomendada para casos de infertilidade sem
causa aparente, disfunções ovulatórias leves ou fator masculino moderado.
P: O suporte psicológico é importante
para a tentante ?
R: A
maturidade emocional pode ser uma vantagem, mas é importante estar ciente das
demandas físicas e dos desafios que podem surgir durante a gestação tardia,
como o aumento do cansaço, dores articulares e a necessidade de um pré-natal
mais rigoroso. O suporte psicológico é tão importante quanto o acompanhamento
médico.
P: Os
aspectos emocionais e psicológicos influenciam os tratamentos?
R: A
infertilidade pode desencadear sentimentos de inadequação, estresse e
ansiedade. Essas emoções podem afetar negativamente a qualidade de vida e,
potencialmente, os resultados dos tratamentos. O suporte psicológico é
fundamental para auxiliar os casais a lidarem com as pressões emocionais
durante o processo de reprodução assistida.
P: Por
que é aconselhável o planejamento da gravidez?
R: Planejar
a gravidez com antecedência, realizando exames para avaliar a saúde reprodutiva
e o bem-estar geral, ajuda a reduzir riscos e proporciona mais segurança tanto para
a mãe quanto para o bebê.
P: Existe tratamento para melhorar a qualidade e quantidade dos óvulos?
R: Embora
não seja possível aumentar a quantidade de óvulos, algumas intervenções podem
melhorar sua qualidade:
Suplementação com antioxidantes: pode reduzir o estresse oxidativo nos
ovários.
Estilo de vida saudável: alimentação equilibrada, prática regular de
exercícios físicos e cessação do tabagismo contribuem para a saúde ovariana.
Congelamento de óvulos: realizado em idade mais jovem, preserva a
qualidade dos óvulos para uso futuro.
P: O congelamento dos óvulos garante uma
gestação?
R: Apesar de não
garantir uma gravidez, esse procedimento
minimiza o efeito do tempo e, numa fase
futura, aumenta as chances de engravidar. Essa
também pode ser uma alternativa para quem deseja postergar a maternidade com
mais segurança.
P: Considera a gestação gemelar mais
passível de complicações?
R: Gestações gemelares estão associadas a
um aumento no risco de complicações, como parto prematuro, baixo peso ao nascer
e pré-eclâmpsia. Por isso, é fundamental um acompanhamento pré-natal rigoroso
para monitorar e minimizar possíveis riscos.
P: Tem ideia de quantos partos já ajudou a
concretizar?
R: Ao longo de minha vida somo mais de 25 anos delicados à obstetrícia.
Considerando o que também realizei durante
a minha formação na faculdade certamente contabilizo mais de 3.500 partos
realizados, sempre com muita dedicação e
carinho.
P: Por
que lançou um livro compartilhando histórias de pacientes. Conte a que mais o
emocionou.
R: No meu livro “Filhos
historias inspiradoras” selecionei relatos motivadores de superação e
vitória de alguns dos mais de 1.400
bebês que ajudei a se tornarem luz na vida das famílias. Entre tantos casos, destaco a
experiência de Eveline, que se casou em
2006, engravidou espontâneo e essa sua
primeira filha faleceu por um grave
problema cerebral. Depois disso foram 5 coletas de óvulos, 8 FIvs sem sucesso.
Em sua última FIV teve apenas um embrião normal, uma única chance, e deu certo. “Davi havia
me escolhido para ser sua mãe. De mãe arco-íris a sonho
materializado”, confidencia essa paciente.
P: Seu conselho é insistir quantas
vezes?
R: Não há fórmula mágica para essa jornada. Ela pode ser uma corrida de 100 metros rasos ou uma maratona. É importante ser paciente e não desistir do sonho. Considero imprescindíveis uma rede de apoio próxima e de suporte; resiliência para superar todos os momentos duros do tratamento; confiança no processo e sempre muita fé que vai dar certo. Quem planta alegria não colhe tempestade. Só esperar que o sol vai brilhar!
0 comentários :
Postar um comentário