Assim como ocorre com procedimentos faciais, como a harmonização,
muitas pessoas têm procurado reverter procedimentos estéticos bucais. Com a chegada
das lentes de contato para os dentes, que possibilitam a uniformização da
arcada, bem como a recuperação da cor do esmalte,famosos e anônimos lotaram consultórios com problemas de dentes
irregulares, manchados, desgastados, espaçados, entre outros casos.
No entanto, Marcelo Kyrillos, da clínica Ateliê Oral, alerta para o que
chama de ‘desvio de rota’. “Com a alta demanda, o processo ficou robótico em
muitos locais, passando a ser feito por
escala. Resultado: sorrisos praticamente iguais, com dentes brancos,
enormes e fakes. É como se viessem lotes
de dentes para uma linha de produção de bonecos. No entanto, a onda contrária
começou a aparecer, com muitas pessoas arrependidas”, conta o cirurgião
dentista que, em 2024, recebeu cerca de
60 pacientes em busca de procedimentos para voltar o mais perto do tamanho e da
cor original dos dentes.
“Essa robotização da beleza vem banalizando um mercado sério”,
frisa Kyrillos, que, com o sócio Marcelo
Moreira, foi pioneiro nos procedimentos com lentes de contato na década de 90.
Ele lembra que, para recuperar o aspecto natural dos dentes, é preciso um
trabalho artesanal com um protético experiente na tecnologia. “Muitas vezes, é
preciso fazer enxertos para devolver a gengiva a pacientes e o tamanho original
dos dentes. Muitos chegam com as gengivas cortadas desnecessariamente para dar
lugar a lentes excessivamente longas”, explica.
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dr. Marcelo Kyrillos fotos: divulgação |
Kyrillos chama atenção para outro ponto: a cor. “O dente natural é
policromático, ou seja, possui várias cores, não é um branco chapado. Possui
ainda brilho e texturas distintos, além de proporções diferentes – o que
chamamos de arranjos – entre um dente e outro. Muitos profissionais utilizam
uma porcelana fresada e fazem o trabalho redutivo de lapidar e “recortar” para
um formato dental, o que dá um aspecto mais grosseiro, sem formas e
exageradamente branco, pois o bloco de porcelana é monocromático”, informa.
Senso
crítico na estética
antes e depois de Jojo Todynho
O profissional destaca que “o uso de lentes de contato é seguro e
benéfico para uma diversidade de casos. As lentes possibilitam a uniformização
da arcada, bem como a recuperação do esmalte, do tamanho dos dentes (no caso de
desgastes ou erosão), o preenchimento de espaçamentos dentários (conhecido como
diastema), colaborando inclusive na melhora da mastigação, entre outros fatores
positivos. No entanto, as lentes não devem ser de forma
indiscriminada, passando por cima da saúde e da função dos dentes. É fundamental ter senso crítico na estética”, avalia.
Kyrillos
conta que o executivo Emílio Marques, 60 anos, e a assessora de investimentos
Gabriela Maximo, 30 anos, passaram pelo mesmo processo. Após viverem situações
traumáticas, ambos optaram por desfazer o procedimento e voltar à aparência
mais próxima da original.
“Fui em uma profissional reconhecida, mas o padrão de beleza dela
não é o mesmo padrão que o meu. Quando finalizou o tratamento, não via o meu
sorriso, e meu sentimento foi de tristeza. Senti uma perda da individualidade.
Tive que ficar mais de um ano assim, pois passei um período morando no
exterior. Logo após retornar ao Brasil, procurei outro profissional em busca da
cor e do tamanho natural”, conta o executivo.
Gabriela colocou lentes de contato há 10 anos. Naquela época, relevou o resultado, mesmo achando que os dentes
estavam muito grandes e desproporcionais. Em 2024, decidiu procurar outro
profissional para refazer e deixar mais natural. No entanto, ele teve diversos
problemas de saúde, além do estético. “As
lentes pareciam vir daqueles lotes de mercadoria que chegam da fábrica para
todo mundo. Um branco chapado, claramente dava para ver que era falso. Fora
isso, a lente foi colocada sobreposta à minha gengiva para dar aquela sensação
de amplitude e deixar o dente mais longo. A recomendação era passar o fio
dental entre a gengiva e a cerâmica. Achei estranho, pois era impossível limpar plenamente. No local foi juntando
bactérias, o que evoluiu para dores e sangramentos”, explica Gabriela, que contraiu uma infecção que lhee custou meses
de tratamento.
“Há beleza na individualidade e na naturalidade. Essa deve ser a
premissa do mercado para os pacientes”, defende Kyrillos, que é co-autor de
livros como Sorriso
Modelo – o Rosto em Harmonia”; “A
Arquitetura do Sorriso” e “Precision
– Os segredos da Odontologia Estética Minimamente Invasiva”.
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