Partindo da premissa
proposta pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett em Esperando Godot, o Coletivo
dos Anjos cria uma série de reflexões sobre as lutas das pessoas pretas e as
contradições sociais e raciais brasileiras em “A Fuzarca dos Descalços”.
Com direção de Aysha Nascimento e a
dramaturgia assinada por Victor Nóvoa, o trabalho foi idealizado por Eder dos
Anjos, que está em cena ao lado de Salloma Salomão e dos músicos Ito Alves e
Juh Vieira, que tocam ao vivo a trilha sonora em diálogo constante com a
dramaturgia.
Corpos Marginalizados
Na trama, Atsu e Baakir
estão do outro lado da cerca. Ambos são corpos marginalizados que compartilham
sonhos, cicatrizes e dores. Mesmo nas situações mais violentas e oníricas, eles
permanecem juntos, tentando compreender e romper com tudo aquilo que os segrega
da sociedade.
A peça é apenas livremente
inspirada na obra de Beckett, já que a proposta é romper com o pensamento niilista do pós-guerra
ocidental, fortemente presente no texto original. Para isso, a nova dramaturgia
problematiza essa questão da espera, partindo da premissa de que a população
negra não tem esse privilégio de aguardar por algo inalcançável.
Afetividade Negra
Ao mesmo tempo em que coloca em cena dois personagens masculinos de idades bem diferentes, o espetáculo também trata da questão da afetividade negra e da importância da polifonia na construção de um novo processo de humanização desses corpos.
“A encenação destaca o lugar do amor, em que dois homens possam ser
afetuosos um com o outro para além da sua sexualidade. E, para falar sobre essa
questão da masculinidade negra, uma referência muito importante para mim foi o
livro Representação e Raça, da Bell Hooks”, conta Aysha.
Outros temas discutidos na peça
são as possibilidades de reconstrução dos povos negros, as relações sociais que
se estabelecem com a negritude e como as pessoas precisam construir juntas uma
nova nação.
Espectadores descalços
Para acentuar o efeito de
empatia e espelhamento no público, os espectadores precisam tirar os sapatos ao
entrar na sala de apresentação e ficar descalços, tal como os personagens. Ao
longo da montagem, os calçados da plateia também são ressignificados de diversas
formas.
Serviço:
A Fuzarca dos Descalços
Centro Cultural São Paulo
(CCSP) – Sala Jardel Filho
De 21 a 31 de março - Quinta
a sábado às 21h e domingos às 20h.
Sessões com libras nos dias
23 e 30/03.
Rua Vergueiro, 1000, Paraíso
– Metro Vergueiro
Oficina Cultural Oswald de
Andrade – Sala 03
De 2 a 5 de abril – Terça a
sexta, às 20h
Nos dias 2 e 4/04 - debate
com elenco após o espetáculo.
Nos dias 3 e 4/04 - Oficina
Teatralidades Negras com Eder dos Anjos, das 14h às 17h.
Rua Três Rios, 363 - Bom
Retiro, São Paulo, SP
Ingressos: Gratuitos
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