Além
das flores, as mulheres merecem um tipo diferente de buquê, que deve ser
entregue todos os dias. Um buquê de respeito. Grande e florido, com pétalas de
igualdade de direitos, ramalhetes de cumprimento às leis de proteção à vida
da mulher, botões de reconhecimento florescendo,
folhas largas de valorização e o aroma marcante e reconfortante da dignidade.
Sem as ervas daninhas do machismo, da misoginia e da violência.
Um arranjo forte para afastar as piadas que,
mesmo feitas sem perceber, diminuem e constrangem. Que seja forte para deixar
longe o silêncio que incentiva tais comentários, quando tudo o que se deseja
ouvir é uma voz de defesa. Sim, somos fortes, corajosas e lutadoras, mas também
queremos ouvir outras vozes ecoando nossas lutas.
Um
ramalhete de flores tem o seu valor. Mas em uma realidade na qual milhares de
mulheres sofrem violência diariamente, esse não pode ser o presente para esta
data tão representativa. Enquanto mulheres ainda recebem salários inferiores,
são abusadas, violentadas e culpadas mesmo sendo vítimas, as flores não podem
vir desacompanhadas.
Em um país com a quinta maior taxa de feminicídio do mundo e onde 35 mulheres são agredidas física ou verbalmente por minuto, o buquê de respeito precisa ser entregue antes das flores. Não é fácil colher os elementos de um buquê tão valioso quanto esse. É preciso apurar os cinco sentidos e acrescentar mais um: a empatia. Pois só nos abrindo para ver o que vai além das nossas vivências, olhando para o outro e suas dores, é possível colher a preciosidade que é o respeito.
Texto da escritora Jéssica Chagas. |
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