A poetisa e escritora Ana C. celebraria 70 anos
em 2022. Para lembrar seu legado
invisibilizado, mas extremamente contemporâneo, Cris Rocha concebeu, dirige e
protagoniza, ao lado da musicista Nina Blauth, o espetáculo Asas para Ana C….
Também como forma de honrar
Ana, a equipe é majoritariamente formada
por mulheres e pessoas LGBTQIA+. A
dramaturgia é de Rafaela Penteado, com a colaboração de Cris Rocha; a dramaturgia
sonora de Nina Blauth e a dramaturgia corporal é de Janette Santiago. Conta
ainda com a provocação cênica de Georgette Fadel que participou do processo de
criação.
Cris iniciou o projeto em
2021. “O que me motivou a escrever foi o próprio arrebatamento que a poesia da
Ana C. causa em mim. Eu encontro uma interlocutora para as questões da vida e para o estado radical de
fronteira”, conta.
Quem
foi Ana C.
Além de poeta, a carioca Ana Cristina Cesar
(1952-1983) também foi crítica, ensaísta e tradutora. Ela emergiu na década de 1970 como parte da geração mimeógrafo, conhecida por uma
produção marginal. Deixou apenas um livro publicado: “A Teus Pés” (1982).
Mas seus pensamentos e inquietações também estão registrados nas cartas que trocava com amigos e artistas (um
deles, o escritor Caio Fernando Abreu).
O projeto pretende dissecar o estado de opressão constante que a
autora viveu, não de forma trágica, mas poética. Aos 31 anos, Ana C., que enfrentava crises de depressão, se jogou
de seu apartamento no Rio de Janeiro.
“Agora, em forma de expressão artística e
poética, o projeto lhe oferece asas para que o voo não seja o fim, mas o
reencontro; desta vez, não um voo solitário, mas em bando”, expõe Cris Rocha.
Fotos: Camila Rios |
Criação
do espetáculo
Inspirado em seus poemas e
cartas, a montagem une teatro, música e dança e traz , de forma intimista,
dinâmica e não linear, a trajetória dessa artista.
Transitando entre seus
textos e por temáticas presentes na vida de Ana - sonhos, recordações, memórias
e amor - o espetáculo suscita reflexões
sobre a cultura de opressão, a posição da mulher na produção cultural, a
relação do mercado com a arte, a produção artística no período da ditadura
militar, a depressão, a invisibilização e o esquecimento de obras e artistas
que já partiram.
Temas contemporâneos e urgentes para que as próximas
gerações de artistas e pessoas LGBTQIA+ alcem voos poéticos simbólicos e
habitem um futuro possível de existências mais plurais.
A montagem se baseia em
trechos de sua poesia e em temas que permearam sua vida. “Nunca foi pretensão fazer um espetáculo
biográfico. É mais uma fagulha para despertar o desejo de conhecê-la”, explica
a diretora.
Asas
metafóricas
Dentre os temas tratados,
estão a depressão LGBTQIA + e a pressão social por adequação dessas pessoas,
mas também o esquecimento de obras e artistas que morreram.
“A intenção é celebrar e difundir a poeta que
teve o acesso à sua obra restringido pelos detentores dos direitos e, consequentemente, também teve sua biografia esquecida no tempo. É importante
que mantenhamos viva em nossos imaginários sua arte e seu legado”, esclarece
Cris.
A escolha do local é igualmente simbólica. A
peça será encenada ao ar livre, em
espaços públicos, como uma forma de dar asas metafóricas à Ana. Para ser
acessível, o espetáculo não demanda sequer iluminação e está programado para as
17h para aproveitar a luz do entardecer. “Vamos estar num espaço onde transitam pessoas que
podem ouvir um verso. O espetáculo é pensado para deselitizar a poesia
considerada difícil”, explica a diretora.
Serviço:
Asas para Ana C… estreia dia
15 de maio, às 20h, na Oficina Cultural Oswald de Andrade
Temporada: De 15 a 29 de maio. Segundas às 20h. Quintas e sextas às 17h. No 29 de maio haverá sessão às 13h e 20h
Ingressos: Gratuitos.
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