Aos 19 anos, Amadeo adora
videogames e carros velozes. Sonha ser piloto de Fórmula 1. Enfim, tem toda a vida pela frente. Mas, certa noite na
estrada, um caminhão destrói o carro que ele dirige. Ele sobrevive em meio às ferragens retorcidas, mas
quando volta do coma está preso a um corpo sem movimentos.
Ao seu redor, estão a mãe, os médicos,
o capitão dos bombeiros que o salvou, a namorada Julia, o amigo Tomás. Tentam
interagir com o rapaz, trafegando entre a frágil esperança e a dor da
realidade. Baila em volta do rapaz o alter-ego/duplo Clóvis, projeção da
consciência que discute e provoca. E, pouco a pouco, cresce a possibilidade de
que Amadeo escolha deixar a prisão do corpo.
“A pergunta central é até onde
temos a liberdade de escolher e dirigir a própria vida”, considera Nelson Baskerville,que dirige a peça. “Cada
um vai acompanhar e avaliar as escolhas dos personagens de seu ponto de vista,
refletindo e não simplesmente reagindo”.
Baskerville é ator, diretor e
autor teatral, premiado com o Shell 2011 de melhor direção por Luis
Antonio-Gabriela, espetáculo que também ganhou o APCA do mesmo ano como melhor
espetáculo, entre outros.
Caso Real
Amadeo, de Côme de Bellescize (autor
e diretor francês com carreira premiada na dramaturgia e na direção de teatro e
ópera), recebeu críticas entusiásticas e
chega agora ao Brasil na primeira montagem fora da França.
Baseia-se no caso real do jovem Vincent Humbert, que ficou
tetraplégico, além de cego e mudo depois de um acidente automobilístico.
Movendo apenas o polegar direito, conseguiu escrever o livro “Eu peço o direito
de morrer”, com o jornalista Frédéric
Veille. A repercussão foi tão grande que se proibiu na França o excesso
terapêutico, permitindo ao paciente o uso de cuidados paliativos e até o
direito de interromper alguns
tratamentos.
A atriz e diretora
franco-brasileira Janaína Suaudeau, formada no Conservatório Nacional de Paris,
se empenhou em trazer para o Brasil a
peça de Bellescize, que ela assistiu na estreia parisiense. “De muitas maneiras
fiquei impactada pela montagem – pelo lado pessoal, pela coragem e habilidade
do autor ao tratar temas-tabu, pela reflexão em nível individual e coletivo que
Amadeo provoca no espectador”, comenta.
“Traduzi o texto com a
colaboração de Clara Carvalho e minha personagem, Julia, representa a
juventude, a descoberta da sexualidade em contraste com a desaceleração física
de Amadeo – mas em circunstâncias muito frágeis; ela não dá conta do que houve
com o namorado, e acaba se atropelando”, explica Janaina.
No elenco, César Mello, Chris Couto, Cláudia Missura,
Janaína Suaudeau, Thomas Huszar e, no papel-título, Thalles Cabral.
O patrocínio do espetáculo é do Magazine Luiza, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Dois planos
Amadeo combina imagens oníricas e
diálogos imaginários com a dura realidade, desenvolvendo-se em dois planos.
Clóvis, o amigo imaginário – uma referência ao serviçal Clov do Fim de Jogo, de
Beckett -, age de modo lúdico-violento para traduzir e sacudir conflitos,
reflexões e sentimentos internos de Amadeo.
Sem perspectiva de melhora, ele
decide morrer. “Existe uma coisa viva dentro dele. A ligação com o bombeiro que
o resgata é particularmente bonita – ele quer convencê-lo a viver. Quem está à
volta de Amadeo é obrigado a repensar as razões para estar vivo. E vejo a
aceitação dessa mãe no centro de tudo, o ponto de gravidade da peça”, observa o
diretor.
O cenário de Marisa Bentivegna se abre, a
princípio, no canto de videogame na casa de Amadeo. Depois do acidente, passa a
remeter aos elementos do hospital, com utilização de efeitos de projeções de
vídeomapping.
Fotos: Gal Oppido. |
Serviço:
Amadeo –
Estreia dia 10 de março de 2023 no Tucarena.
Rua Bartira, 347 - Perdizes, São Paulo/SP
Temporada: de 10 de março a 28 de maio de
2023. Sextas e sábados às 21h. Domingos às 18h.
Duração: 1h30.
Recomendação etária: 16 anos.
Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia
entrada para estudantes e idosos, portadores de necessidades especiais,
professores da rede pública). Estudantes e professores da PUC: R$20
Pela internet: Sympla
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