Utilizados há séculos como
itens de moda, os leques podiam dizer muito sobre aqueles que os carregavam.
Por meio deles, era possível definir a posição social, o título monárquico, a
época e, principalmente, o local onde ele foi produzido. Mais recentemente, com
o fortalecimento da decoração afetiva, eles passaram a ganhar destaque, tanto
pelas técnicas de produção 100% artesanais, quanto pelo fato de refletirem as
histórias e as culturas de seus locais de origem.
“Seu objetivo principal era refrescar em dias de calor, porém, ao longo dos anos, o leque passou a ser usado no dia a dia para mostrar poder e sofisticação, como símbolo em rituais religiosos e, mais recentemente, na decoração”, revela Mariana de Oliveira, curadora e diretora da Etnias Mundi, e-commerce de artesanato que reúne leques do Brasil, México, Colômbia, Vietnã e Gana.
Mesmo que não seja possível afirmar sua origem exata, acredita-se que o leque surgiu na China, por volta do século VII, apesar de já ter sido retratado desde a antiguidade em pinturas no Egito, Assíria e Pérsia. Mais tarde, foi incorporado fortemente às vestimentas tradicionais do Japão, que passou a ter alguns elementos de sua cultura difundidos pelos europeus. A partir de então, o leque se popularizou nas sociedades europeias e se espalhou por diversos continentes. “Interessante é que cada região desenvolveu não só técnicas diferentes de produção, mas também novos desenhos e trabalhos com materiais locais”, explica Mariana.
É o caso dos leques de
Bolgatanga, cidade histórica de Gana, na África Ocidental, onde grupos de
artesãos produzem peças utilizando o couro e o capim-elefante, planta de origem
africana. Assim como em outros produtos artesanais do continente, os leques de
bolgatanga parecem refletir o espírito africano que usa grafismos multicoloridos. Ao longo dos
séculos, os artesãos de Bolgatanga transferem as habilidades tradicionais de
tecelagem para as gerações seguintes, incluindo os jovens de hoje.
Já no Vietnã, os materiais que se destacam são
o bambu e o algodão. Estes leques asiáticos são feitos numa região chamada Kim
Son, que conta com cerca de 20 vilarejos e abriga aproximadamente de 800
artesãos, além de ser reconhecida pelo seu artesanato há mais de 200 anos.
“Estes são feitos no tear manual e, segundo o feng-shui, simbolizam
prosperidade, a sorte e a proteção. Neste caso, o leque é ideal para quem busca
redirecionar boas energias para um determinado espaço”, esclarece a curadora.
Nos leques da Colômbia, a
técnica é o trançado da fibra de iraca. Eles são feitos por um grupo de mais de 100 mulheres,
herdeiras de uma técnica ancestral que passa de geração a geração. São mães e
chefes de família, muitas vezes vítimas do conflito armado, do município de
Sandoná, departamento de Nariño, Colômbia. Com esforço e dedicação para
entrelaçar as fibras, elas produzem um artesanato reconhecido mundialmente pela
originalidade, qualidade e design. Podem ser encontrados na tonalidade natural, em cores únicas ou misturadas.
No México, um arco de madeira serve de suporte
para o trançado da palha da palmeira jipi japa. Estes leques são tecidos
individualmente à mão por um pequeno coletivo de mulheres maias que cultiva a
palmeira famosa por sua textura fina, delicada e ao mesmo tempo resistente que
permite a confecção de objetos flexíveis como chapéus ou leques.
Por fim, no Brasil artesãos
indígenas da etnia Baré usam a palha de tucumã para trançar peças importantes
para a manutenção de sua cultura. Localizados ao longo do Rio Negro, no estado
do Amazonas, o artesanato é uma das principais fontes de renda dessa
comunidade.
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