Veja que conquista: ela foi a
primeira modelo com síndrome de Down a desfilar nas passarelas da Brasil
Fashion Week. Desde então, Maria Júlia
de Araújo Dias - a Maju de Araújo como é conhecida - batalha por mais diversidade na moda e lançou a campanha “Inclusão não é moda;
inclusão é cidadania”.
Filha da chef de cozinha
Adriana de Araújo e do analista de sistemas Orlando Pereira Dias, desde criança
ela mostrou interesse por moda e desfiles. A
modelo lembra que decidiu realizar o sonho de brilhar nas passarelas após se recuperar de uma meningite
bacteriana, doença que a deixou em coma.
“Esse
diagnóstico - com risco de óbito ou de sequelas graves, como perda da audição e da visão -,
lhe dá duas opções: ser tomada
pelo medo ou lutar pela vida. Eu sabia que, se recebesse uma nova oportunidade,
deveria agarrar essa chance. Foi o que fiz ", conta Maju.
Aos 16 anos, ela foi
descoberta pelo grupo MGT. A partir daí, só pensou em lapidar seu dom natural e se profissionalizar:
entrou no curso School Models e se
formou no final de 2019. Logo em seguida passou a ser convidada para
participar de Fashion Weeks de diferentes cidades do país. Na Osasco Fashion
Weeks de 2019, por exemplo, desfilou
para 40 marcas em uma única temporada – recorde importante mesmo para profissionais da área que não possuem deficiência (PCD).
Referência e Exemplo
Para Maju, modelos com
síndrome de Down agregam à moda uma beleza
singular. “Pessoas reais buscam
moda real. A profissão não deve ficar restrita às pessoas de corpo e o rosto perfeitos’”,
opina.
A modelo lembra que, quando
era pequena, não havia a mesma representatividade: "Raramente
encontrávamos pessoas como eu estampando matérias, revistas, cruzando
passarelas. Mas descobri que o mundo tem
lugar para nós", conta.
Atualmente ela tem perto de 400 mil seguidores no Instagram, onde aconselha e influencia positivamente meninas com corpos ou rostos que fogem do
padrão, interessadas em ingressar
na carreira.
Segundo avalia por experiência
própria, o caminho é um pouco mais árduo
para modelos com síndrome de Down. “A luta é incansável. Mesmo sendo tão capacitada
quanto outras tops de sucesso, ainda sinto
dificuldade de ser reconhecida profissionalmente. Mas sigo quebrando tabus devagar e com
paciência. Meu sonho é que pessoas com
deficiência usufruam de oportunidades iguais em todos os segmentos, incluindo a
moda”, relata.
Colhendo Sucesso
Com passagens por três Fashion
Weeks, incluindo a de Milão, na Itália, a modelo revela que ainda há pessoas que dizem que ela não merece essas
conquistas. Ela quebra tal preconceito informando que, hoje, seu trabalho nas
passarelas e frente às câmeras é a principal fonte de renda da família.
Coroando seu sucesso, em 2020
passou a fazer parte do time de embaixadoras da gigante de beleza
L'Oréal Paris. “Sou a primeira
brasileira com síndrome de Down a compor a equipe. Ser modelo não é só luxo e
fama. Esse trabalho nos torna referência e símbolo de representatividade para
quem ainda não descobriu seu lugar no mundo. A
beleza é diversa, é colorida, é real”, pondera com maturidade, apesar dos seus verdes 19 anos.
fotos: Nila Costa, Andre Sa e Instagram |
A sensação de desfilar na maior
semana de moda do mundo, ser fotografada e observada e dividir espaço com
outras grandes modelos poderia amedrontar Maju. Mas ela se sente uma gigante
nas passarelas. “Me descobri não pela
beleza exterior, mas pelo poder de influência do que faço. Isso impactou a minha vida, me tornei mais autoconfiante. Basta eu dar o primeiro passo nos desfiles que
qualquer preocupação some. É uma sensação de plenitude
indescritível", explica.
Apesar
de todos os triunfos já alcançados, Maju reconhece suas limitações: tem um pouco de dificuldade para falar, mas se
comunica bem através de expressões e da
linguagem de sinais. “Isso não me impede de viver uma vida plena. O que me
tira do sério é o preconceito de
pessoas que dizem que sou branca e privilegiada. Foi com muita garra e luta que
ocupei meu lugar. Nada pode me limitar ou definir", avisa.
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