O título da matéria destaca a argumentação do dr. Gustavo Stocchero. Ele defende que o artista erra muito, corrige, pinta por cima da tela, joga a obra fora. Por sua vez, como o paciente só tem uma chance, a cirurgia plástica precisa ser pautada pela previsibilidade, pela consistência e pela busca de resultados satisfatórios em detrimento da volatilidade inerente aos processos puramente artísticos. Confira, no artigo abaixo, como ele bem situa a responsabilidade e o comprometimento da especialidade que abraçou:
As 150 mil Obras de Picasso.
Ou A Face por Baixo da Mona Lisa.
Por Dr Gustavo Stocchero*
Em 2015, um estudo
conduzido no quadro “Mona Lisa” (La Gioconda, em italiano) demonstrou que,
antes da obra final, Da Vinci havia pintado um rosto bastante diferente com
nariz mais fino, sem o enigmático sorriso. Mas isso não impressionou os
estudiosos, pois é muito comum encontrar diferentes versões, ou até mesmo obras
completamente distintas, nas camadas inferiores das telas usadas pelos
artistas.
A obra Mona Lisa foi feita e refeita |
E por que estou trazendo
este assunto? Porque muitas vezes ouço as pessoas comparando cirurgia plástica
com a Arte. Mas acredito que essa é uma comparação que não leva em conta esse
grande detalhe das artes plásticas: o artista erra muito, produz resultados
muito diferentes, troca de ideia, corrige, experimenta, pinta por cima da tela,
joga a obra fora. Aliás, muitas obras, mesmo acabadas, ficam consideravelmente
ruins. Por exemplo: estima-se que o mestre Picasso (imagem que abre essa matéria) tenha produzido algo como
150 mil obras. Quantas realmente significativas?
O cirurgião plástico não é
um artista. O corpo humano não é uma tela. A nossa profissão não deve ser
pautada na esperança de um dia estar com a genialidade à flor da pele,
aceitando que em muitos outros dias os resultados serão merecedores de serem
apagados, jogados fora. Não: a cirurgia plástica precisa ser pautada pela
previsibilidade, pela consistência, buscar a maior quantidade de resultados
satisfatórios em detrimento da volatilidade inerente aos processos puramente
artísticos.
Dr. Gustavo Stocchero |
Medicina não é ciência
exata, claro. Mas é importante chegar o mais próximo possível dela, trazendo números e estatísticas para maior
segurança de nossos pacientes. Só o estudo teórico consegue trazer muita
informação para gerar ciências precisas. Não podemos diminuir a importância da
teoria para atingir resultados consistentes. A dedicação e o aperfeiçoamento
prático são muito importantes, mas não existe toque mágico que entregue
consistência. O artista, e até mesmo o cirurgião plástico, sempre pode acordar
no dia seguinte e tentar algo inovador maravilhoso. Mas o paciente, este, só
tem uma chance na cirurgia. A consistência sempre vai superar a intensidade de
curto prazo.
* Dr. Gustavo Stocchero é cirurgião plástico, membro titular da SBCP e
pós-graduado em gestão de marketing pelo
Insper.
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