O franco-venezuelano Carlos Cruz-Diez (1923 - 2019) dedicou sua vida ao estudo da cor nas artes contemporâneas. Autor de pinturas, fotografias e instalações, ele foi aos poucos afastando suas criações das formas, símbolos e até mesmo signos, num radical mergulho na cor em si. Sua extensa obra é agora celebrada na mostra Cruz-Diez: a liberdade da cor, exposição em cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro.
Nascido em Caracas, na Venezuela,
Cruz-Diez interessou-se pela cor ainda criança, ao admirar a dança luminosa das
garrafas que seu pai fabricava artesanalmente. Manteve a paixão pelas cores e
pelos fenômenos luminosos por toda a vida. Em meados de 1950, iniciou
experimentações artísticas com a cor, o movimento e a luz e, na década
seguinte, mudou-se para França, onde residiu e produziu incessantemente até seu
recente falecimento, em julho deste ano.
Com um conjunto de 8 obras, além de 20 fotos, a exposição faz uma imersão em diferentes fases do trabalho do artista, apresentando sua pesquisa e pensamento para além da arte cinética, movimento no qual é reconhecido como expoente pela crítica mundial. No espaço térreo do Espaço Cultural Porto Seguro, quatro obras emblemáticas de Cruz-Diez, três fisicromias e uma transcromia, abrem a mostra. Tais trabalhos introduzem o público a alguns dos fenômenos perceptivos e procedimentos fundamentais na pesquisa cromática do artista.
Inédita no Brasil, Labirinto Transcromia (1965/
2017), instalação exibida no mezanino, é um convite à interação dos
visitantes, que se tornam agentes criativos na mostra. Estruturas com tiras
coloridas translúcidas presas ao teto, organizadas em distâncias variadas e em
uma ordem específica, envolvem o espectador. Ao caminhar entre elas, surgem as
mais variadas combinações e efeitos, frutos do fenômeno físico conhecido como
síntese subtrativa, em que diferentes pigmentos coloridos sobrepostos produzem
novas cores e, eventualmente, chegam ao preto.
Nas palavras de Rodrigo Villela, curador da exposição, “Cruz-Diez fez um percurso tocante em busca da cor como potência singular. A questão é que, normalmente, nessa experiência a cor é percebida como um aspecto de algo, o que muitas vezes pode tender ao decorativo. O artista se afasta gradualmente das formas e procura um contato direto com a vibração da cor e seus efeitos, algo que não depende necessariamente de uma forma. Os ambientes de cromossaturação, presentes na mostra, são um bom exemplo. Em homenagem a esse belo mergulho, fundamental também para a arte contemporânea e a chamada pintura abstrata, escolhemos ‘A Liberdade da Cor’ como título da exposição”.
No subsolo da instituição, um ambiente cromointerferente alude à transfiguração do espaço por meio da cor. Nele, quatro objetos – um cilindro, uma esfera e dois pedestais cúbicos – têm sua percepção transformada pela projeção cruzada de quatro feixes luminosos, cada um com uma cor diferente, formando uma trama de luz colorida. Em um percurso cada vez mais imersivo, ao sair desse primeiro espaço o espectador encontra a instalação Cromossaturação, composta por três salas contíguas mas com cores diferentes – vermelho, verde e azul. Essas cores correspondem às frequências do espectro luminoso que estimulam os 3 tipos cones em nossa retina, células responsáveis por nossa percepção cromática. A experiência cria diferentes efeitos em nosso sistema perceptivo, habituado a receber uma ampla gama de cores simultaneamente.
Também no subsolo, o visitante encontra uma seleção de fotografias em preto-e-branco, clicadas por Cruz-Diez ao longo de sua vida, especialmente na Venezuela, inéditas no Brasil. “Essa seção revela a humanidade do olhar desse expoente da arte contemporânea para com o mundo ao seu redor, e ao mesmo tempo já evidencia seu gosto pela geometria e pelas composições equilibradas de luz e sombra – elementos clássicos da fotografia que em si tendem à abstração”, reflete Villela. Ainda no subsolo, duas projeções: a primeira apresenta fotos de trabalhos do artista em arquitetura, como praças, prédios e monumentos ao redor do mundo. A segunda traz vídeos com depoimentos do próprio Cruz-Diez falando sobre alguns aspectos de sua trajetória e pesquisa.
A mostra ultrapassa a área expositiva
com uma obra inédita, agregada à arquitetura externa do prédio, podendo
ser vista tanto da rua quanto da praça do Espaço Cultural Porto Seguro. "O
trabalho que eu realizo em áreas e edifícios urbanos faz parte de um discurso
gerado no tempo e no espaço, que cria
situações e eventos cromáticos, e muda a dialética entre o espectador e o
trabalho", afirmava o artista, que tem obras no acervo do
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Serviço:
Cruz-Diez: A liberdade da cor
Curadoria: Rodrigo Villela.
Quando: de 9 de novembro a
2 de fevereiro.
Onde: Espaço Cultural Porto
Seguro - Al. Barão de Piracicaba, 610, São Paulo.
Visitação: de terça a sábado,
das 10h às 19h; domingos e feriados, das 10h às 17h.
Entrada gratuita.
A exposição oferece atendimento especial com mediadores bilíngues em inglês, espanhol e libras mediante
agendamento prévio.
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