Quase 70 anos de carreira.
Eleita pela BBC de Londres como “a melhor cantora do milênio”. Teve uma
infância pobre, casou-se aos 13 anos e perdeu
dois filhos que gerou na adolescência. Ainda assim, graças ao
potencial da voz, essa guerreira galgou um sucesso longo e ininterrupto. Falamos, é claro, de Elza Soares, que ganha o espetácuo Elza, o
Musical para homenageá-la.
Nem todos os fatos de seu cotidiano são contados e a estrutura da peça foge do
formato convencional das biografias musicais. Se os personagens podem ser
vividos por várias atrizes ao mesmo tempo, o texto também não segue uma linha cronológica.
Músicas recentes (A Mulher
do Fim do Mundo, a emblemática A Carne e Maria da Vila Matilde) se
embaralham aos sucessos das mais de seis décadas de carreira da cantora,
como Se Acaso Você
Chegasse, Lama, Malandro, Lata D’Água e Cadeira Vazia.
Marcada por uma série de tragédias pessoais – a morte dos filhos
e de Garrincha, a violência doméstica e a intolerância –, a jornada da cantora é contada com animação. “A Elza me disse: ‘sou
muito alegre, viva, debochada. Não vai me fazer um musical triste, tem que ter
felicidade’. Achei importante fazer o espetáculo a partir deste
encontro, que me deu base para saber como a cantora gostaria de ser retratada”, conta Vinicius Calderoni,
que leu e assistiu a infindáveis entrevistas de Elza e também pesquisou a
obra de pensadoras negras, como Angela
Davis e Conceição
Evaristo, cujos fragmentos de textos aparecem na peça.
O espetáculo foi desenvolvido ao longo de um período em que Elza
se encontra no auge de uma carreira marcada por reviravoltas e renascimentos.
Ao lançar seus últimos dois discos, A
Mulher do Fim do Mundo (2015) e Deus é Mulher (2018),
a cantora não somente ampliou seu
repertório e sua base de fãs, como conquistou, mais uma vez, a crítica
internacional, e se consolidou como uma das principais vozes da mulher negra
brasileira.
Larissa Luz, convidada para a montagem, e
mais seis atrizes (Janamô, Julia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacorte e Verônica Bonfim) sobem
ao palco para celebrar o trabalho. Foram nove indicações ao Prêmio Bibi
Ferreira, vencendo em quatro categorias: Melhor Musical Brasileiro, Melhor
atriz em Musicais (Larissa Luz), Melhor Direção em Musicais (Duda Maia), Melhor
Arranjo Original em musicais (Letieres Leite) e Melhor Roteiro Original em
Musicais (Vinicius Calderoni), o recém-conquistado Prêmio Shell de Melhor
Música, os dois prêmios Cesgranrio (Melhor Direção - Duda Maia e Categoria
Especial pelo Elenco), quatro troféus do Prêmio Reverência (Melhor Espetáculo,
Melhor Direção, Melhor Autor e Categoria Especial) e o Prêmio da APCA de Melhor
Dramaturgia.
Em cena, as atrizes se dividem ao viver Elza Soares em
suas mais diversas fases e interpretam outros personagens, como os familiares e
amigos da cantora, além de personalidades marcantes, como Ary Barroso
(1903-1964), apresentador do programa onde ela se apresentou pela primeira vez,
e Garrincha (1933-1983), com quem ela manteve um longo relacionamento.
Com texto inédito de Vinícius
Calderoni e direção de Duda Maia, o
espetáculo tem a direção musical de Pedro
Luís, Larissa
Luz e Antônia
Adnet. O maestro Letieres Leite, da Orquestra Rumpilezz,
foi o responsável pelos novos arranjos para clássicos do repertório da cantora,
tais como Lama, O Meu Guri, A Carne e Se Acaso Você Chegasse. O
projeto foi idealizado por Andréa
Alves, da Sarau Agência.
Fotos: Karen Eppinghaus/Leo Aversa |
Vinícius Calderoni, autor do texto, chama a atenção
para a coletividade presente em todo o processo de criação da montagem. Após
ter escrito as primeiras páginas, ele começou a frequentar os ensaios e
estabeleceu um rico intercâmbio com Duda
Maia e as sete atrizes. “Hoje poderia dizer que elas são
coautoras e colaboradoras do texto. São sete atrizes negras e múltiplas, como a
Elza é. Diante da responsabilidade enorme, estabeleci limites de fala para mim,
por exemplo, em relação a alguns temas. Limitei a minha voz e disse que não
escreveria nada, queria os relatos delas e as opiniões. Pedi a colaboração
delas, das experiências vividas por mulheres negras”, conta o
dramaturgo.
Tal processo colaborativo se estendeu para a música, com a
participação ativa das atrizes e das musicistas nos ensaios com os diretores
musicais, e o maestro Letieres
Leite, que liderou algumas oficinas com o grupo no período dos
ensaios. O processo gerou ainda duas canções inéditas que estão na peça: Ogum, de Pedro Luís,
e Rap da Vila Vintém,
de Larissa Luz. Se a escolha de Pedro
Luís para a função foi referendada pela própria Elza – que
gravou e escolheu um verso do compositor para nomear seu último disco –, Larissa Luz já
estava envolvida com o projeto desde o seu embrião.
Ficha Técnica:
Elenco: Janamô,
Julia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacôrte, Verônica Bonfim e a atriz
convidada Larissa Luz. *Substituta de Larissa Luz: Ágata Matos. Direção: Duda
Maia. Texto:
Vinícius Calderoni. Direção
Musical: Pedro Luís, Larissa Luz e Antônia Adnet. Arranjos:
Letieres Leite. Idealização
e direção de Produção: Andréa Alves.
ELZA, MUSICAL
De 8 de novembro a 15 de dezembro - Sexta e
sábado, às 20h e domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 80,00 plateia / R$ 60,00 balcão e
frisas.
Classificação: 14 anos.
Duração: 150 minutos.
Obs: Dias 23 e 24 de novembro não haverá espetáculo.
Sessão extra dia 19 de novembro, às 20h.
Nos dias 19, 22 e 30 de novembro, a atriz Larissa Luz será
substituída pela atriz Ágata Matos.
TEATRO PORTO SEGURO
Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo.
Tel. (11) 3226.7300.
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