Talvez seja pelo momento político/econômico que atravessamos, mas também
pode ser pelo fato que o SPFW foi comprado por uma empresa cujo DNA é o
espetáculo e a venda de ingressos para shows. O fato é que os desfiles do evento seguiram a linha dos manifestos, provocações e experimentações com foco
no Brasil atual. Como era de se esperar, a moda vendável pouco apareceu,
cedendo lugar à vestimenta show.
As marcas que participaram dessa semana de moda apresentaram uma mistura de propostas para o verão, alto verão, festas de final de ano ou então optaram por expor (antecipar) as linhas do inverno 2020. A bem da verdade, algumas falaram a linguagem dos seus clientes multimarcas, outras defenderam o seu próprio ponto de venda, enquanto que as grifes iniciantes tentaram encontrar clientes potenciais através do apelo das midias sociais.
Ellus: ativismo ambiental |
Os manifestos da diversidade, cultura black, umbanda e axé foram elementos
constantes nos desfiles, com a finalidade de atrair a atenção do público consumidor com vários
tipos de provocações. A Free Free enalteceu o empoderamento feminino,
convidando não modelos, mas mulheres reais
diferentes, desde plus size, deficientes até de terceira idade para desfilar. Em
algumas apresentações, a trilha sonora
ecoava e repetia : "sapatão", "sapatão"...
Cavalera: respeito pelo trans |
Para polemizar e, quem sabe, no intuito de chocar almas mais
tradicionais e suscetíveis, mulheres beijavam mulheres e homens beijavam homens
nas passarelas. No desfile da Cavalera, o modelo trans Sam Porto mostrou a cicatriz de retirada do busto. Teve também o Seu Jorge clamando a favor da cultura black,
enquanto um outro estilista, cujo nome
prefiro não revelar, defendeu os rappers
na passarela. Mas a ação hors concours,
no encerramento do SPFW, ficou para
certa marca que houve por bem distribuir arruda e sal grosso (xô olho gordo e azar) para os convidados.
Axê, axê.......a busca das raízes brasileiras ganhou destaque no Pavilhão da Cultura Brasileira, no Parque Ibirapuera, ambiente meio rude, mas forrado com os indefectíveis tapetes vermelhos, o que ajudou a compor a
atmosfera "brazilian cool". Abraçando esse estilo, um estilista calçou os pés de todos os modelos com havaianas e rasteiras.... Chique nos “úrtimos”...
Algumas marcas requintadas preferiram apresentar seus desfiles fora do Ibirapuera. Vender já o alto verão/festas
ou comercializar o próximo inverno foi
uma decisão pessoal de cada empresa. Na
dúvida, a maioria misturou “estações” nas passarelas.
Não poderia deixar de mencionar aquele
estilista teatral, cliente tradicional do SPFW, que interessadamente fez um desfile experimental, que foi a tônica do Projeto Estufa, bancado e
apoiado por entidades interessadas em alavancar novas "startups" no
mercado.
Enfim, nesta edição, percebi que a moda vendável foi embrulhada na moda-experimental.
Texto de Diaulas Novaes, editor de O Mapa da Moda
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