O espetáculo Jardim de Inverno é
adaptado do romance “Revolutionary Road”. A peça se passa em uma
época pré-feminista e levanta questões como a liberdade, os padrões de vida impostos
pela sociedade e a sensação de sufocamento na vida familiar. A obra foi
adaptada para o cinema (em português com o título Foi Apenas Um Sonho),
protagonizada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.
A trama retrata a vida cotidiana
de April Wheeler (Andréia Horta) e seu marido Frank (Fabrício Pietro), um casal
de classe média aparentemente feliz, que mora com seus dois filhos em um subúrbio
de uma pequena cidade nos Estados Unidos, na década de 1950. A história revela
momentos da vida cotidiana do casal. Ao cumprir as convenções sociais impostas,
ambos são acometidos por frustração, conforme assistem suas vidas passam como um acúmulo de
instantes sem sentido.
“A obra, mesmo tendo sido escrita no início da
década de 60 e contando a história de uma família americana suburbana dos anos
50, carrega uma atemporalidade, já que fundamentalmente expõe como nossos projetos de realização pessoal
podem ser sufocados em nome da estabilidade social e financeira. Esse assunto
não diz respeito a uma época específica, e sim à problemática humana mais
profunda, independente de tempo ou lugar”, explica o diretor Marco Antônio
Pâmio.
Nessa época pré-feminista, April é uma dona de casa que tem o sonho de ser atriz frustrado. Ela elabora um plano romântico para se mudar com a família para Paris, onde será possível reavivar seu relacionamento com o marido, cumprindo seu profundo desejo de liberdade e dando a ele a chance de se “encontrar”.
Andréia Horta está feliz com o novo trabalho: “Sinto a
alegria de já ter vivido muitos personagens, com alguns tenho semelhanças, com outros não. Sempre tentamos encontrar
pontos de contato, mas nem sempre acontece, o que é bom também, porque, a
partir do desconhecido, começa a criação. Para April, tenho me conectado com
tantas histórias de pessoas que viveram sufocadas pela idealização da família e
do papel que acreditaram que as mulheres
deveríam ocupar , sem chance de escolher
outro destino”, relata.
Já Frank tem um emprego relativamente bem remunerado, mas muito tedioso, e espera conseguir em breve uma promoção. Inicialmente, ele fica entusiasmado com a ideia da esposa, mas, aos poucos, passa a sabotá-la, alarmado com a possibilidade de mudança, pois acredita que precisa encontrar a felicidade em sua vida concreta.
Para construir sua personagem, Fabrício Pietro inspira-se nos modelos de família tradicional ao seu redor. “Fui criado em uma sociedade na qual a figura masculina tem obrigação de ser forte, provedora, chefe da casa e bem-sucedida. Ainda que eu tenha consciência destas questões e lute contra elas, sei que estão plantadas no meu DNA social”, acrescenta.
O casal não sabe se abre mão de seus verdadeiros desejos ou se enfrenta o peso do conformismo. Ambos descarregam suas frustrações um no outro e raramente compreendem o ponto de vista do parceiro, refletindo a desilusão do sonho do “american way of life”. Mas, diante dos olhares de seus vizinhos, eles representam os pilares de tudo o que há de bom; são pessoas contagiantes, exemplares e especiais.
Já Frank tem um emprego relativamente bem remunerado, mas muito tedioso, e espera conseguir em breve uma promoção. Inicialmente, ele fica entusiasmado com a ideia da esposa, mas, aos poucos, passa a sabotá-la, alarmado com a possibilidade de mudança, pois acredita que precisa encontrar a felicidade em sua vida concreta.
Para construir sua personagem, Fabrício Pietro inspira-se nos modelos de família tradicional ao seu redor. “Fui criado em uma sociedade na qual a figura masculina tem obrigação de ser forte, provedora, chefe da casa e bem-sucedida. Ainda que eu tenha consciência destas questões e lute contra elas, sei que estão plantadas no meu DNA social”, acrescenta.
O casal não sabe se abre mão de seus verdadeiros desejos ou se enfrenta o peso do conformismo. Ambos descarregam suas frustrações um no outro e raramente compreendem o ponto de vista do parceiro, refletindo a desilusão do sonho do “american way of life”. Mas, diante dos olhares de seus vizinhos, eles representam os pilares de tudo o que há de bom; são pessoas contagiantes, exemplares e especiais.
Andréia Horta e Fabricio Pietro Fotos: Danilo Borges |
Essa dicotomia entre a realidade
(para o casal) e a ficção (para os vizinhos) faz com que a história seja um
inquietante retrato da busca pela oportunidade de fazer o que se quer para que tudo valha a
pena. “A própria dramaturgia nos conduz a isso, uma vez que enxergamos o casal
na sua intimidade e no convívio com os outros personagens que os cercam. Nosso
elemento inspirador é o próprio teatro, na medida em que a vida dos dois é, de
certa maneira, representada para os outros. Todos representam papéis sociais,
mas o que eles vivem entre quatro paredes se distancia bastante do que deixam
transparecer para o mundo. E, tanto quanto no teatro, esses papéis precisam ser
extremamente bem representados”, explica Pâmio.
Tal como uma tragédia grega, a
obra gira ao redor das falhas morais de suas personagens centrais ao discutir
temas como a liberdade, o quanto as pessoas são capazes de se autossabotar para
caber nas expectativas sociais, a distância entre a felicidade idealizada e a
vida concreta, a busca por uma vida autêntica, os modelos irreais de felicidade
impostos pela sociedade, como o homem lida com o sucesso da mulher, seu desejo
de autoafirmação e o medo diante de certezas questionadas.
Questões femininas
Publicado
em 1961, o primeiro romance de Yates foi finalista do National Book Award em
1962, vendeu milhares de cópias, foi traduzido e publicado em outros países e,
em 2005, foi eleito pela revista Time como um dos 100 maiores livros da
literatura em inglês. A obra ficou ainda mais conhecida graças à adaptação
cinematográfica dirigida por Sam Mendes em 2008, com o título Foi Apenas um Sonho,
estrelada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.
“Quando assisti ao filme em 2009,
senti o mesmo vazio desesperador e vontade de resgatar uma certa ‘sensação de
vida’ que April, a protagonista, sentiu. Eu vinha de uma fase na qual conforto
e estabilidade eram meus objetivos de vida. Com o passar dos anos, meus desejos
mais genuínos foram minados pelo comodismo e algo importante se perdeu: minha
coragem e autenticidade. O filme me fez enxergar isto. Adquiri a obra original
e me debrucei sobre ela e então decidi escrever a versão teatral. Minha
adaptação foca na reflexão sobre o sufocamento dos desejos, a massificação dos
valores, o desperdício dos potenciais individuais em virtude de um modelo de família próspera e feliz
estabelecido por interesses econômicos. Mas em si, a história carrega questões
femininas urgentes, expostas pela protagonista e que, lamentavelmente 60 anos
depois (o romance foi escrito em 1961), seguem devastando as mulheres”, revela
Pietro, responsável pela dramaturgia e tradução.
“Como a peça é adaptada de um
texto literário, é fundamental a presença do recurso narrativo em sua
dramaturgia. Mas, ao contrário da presença onisciente de um narrador descolado
da ação como mero observador, optamos por tornar cada uma das personagens
também narradores em momentos específicos, fazendo com que todos, além de viver
a história, também a contem sob sua perspectiva particular. Os figurinos seguem
à risca o estilo dos anos 50. Seria impensável transpor o contexto histórico
para outra época que não o ano de 1955 original, sob o risco de perdermos a
perspectiva do papel da mulher na sociedade e quanto a personagem April se
encontra à frente de seu tempo. Quanto à trilha sonora, ela já não terá tanto
esse compromisso. Uma combinação de canções e, mais intensamente, temas
minimalistas, comporão a atmosfera sonora de crescente dramático que o texto
pede”, informa Pâmio.
Ficha técnica:
Título Original: Revolutionary Road, Romance
De Richard Yates. Dramaturgia
e tradução: Fabrício Pietro. Colaboração dramatúrgica:
Erica Montanheiro e Marco Antônio Pâmio. Direção: Marco Antônio Pâmio. Elenco: Andréia Horta,
Fabrício Pietro, Erica Montanheiro, Iuri Saraiva, Martha Meola, Ricardo Ripa,
Luciano Schwab, Aline Jones, Julia Azzam e Lucas Amorim. Direção de Produção:
Danielle Cabral. Direção
de movimento: Marco Patrocínio:
Papírus.
Serviço:
JARDIM DE INVERNO – Estreia dia 11 de outubro
Classificação: 14
anos.
Ingressos: R$ 50
(inteira); R$25 (meia-entrada).
Temporada: De 11 de outubro a 17 de novembro. Sexta
21h30, sábado 21h e domingo 20h.
Teatro Raul Cortez – Rua Dr. Plínio Barreto,
285 - Bela Vista, São Paulo.
Bilheteria: De terça a quinta, das 15h
às 19h; e de sexta a domingo, das 15h até o início do espetáculo (Não abre aos
feriados).
Informações: (11)
3254-1633.
Vendas online: https://www.sympla. com.br/
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