Quem não se lembra lá nos anos 80 e 90 de uma revista jovem que tinha a seção "certo e errado", com fotos de pessoas na rua, dizendo o motivo pelo qual elas acertaram ou erraram na roupa ?
Quem nunca viu um livro desses de moda e estilo que ensina a "parecer" mais magra, disfarçar seus defeitos físicos por meio das roupas?
Quem nunca ouviu algo do tipo: "se você está acima do peso ideal deve evitar listras horizontais", "se usa óculos jamais deve ter franja", "guarde sua roupa brilhante para uma ocasião noturna", "quem tem quadril largo deve usar sempre partes de baixo escuras…?
Todos nós, em algum momento da vida, uns mais outros menos, já estivemos expostos a essas regras aprisionantes.
Eu mesma sempre fui bombardeada porque adorava ler revistas femininas, porque amo moda, e quando finalmente me formei consultora de imagem e personal stylist, levei mais alguns tiros: "tenta evitar calças justas, você tem muito quadril", "de acordo com sua coloração pessoal, jamais use amarelo, verde, laranja ou dourado, senão parecerá pálida e doente." Neste dia eu estava feliz da vida com um casaco verde limão e continuei com ele. Gostar da peça e me sentir linda com ela era muito mais do que aquele bando de frustradas me julgando através de regras generalistas.
O tempo passou, conclui uma bateria de cursos e me tornei uma maravilhosa replicadora dessas regras: atendi mulheres, homens e empresas, mas aquilo doía meu coração, eu não gostava de proibir as pessoas das coisas, nem de me proibir, então por anos atendi apenas clientes de fotos e filmes porque desenvolvi verdadeira repulsa por esse assunto.
Se Gostou, Pode !
O ato de se vestir, de escolher as roupas, de se expressar através da moda é algo que deve ser prazeroso e não uma forma de castração ou algo que mine o amor-próprio. Se a faz feliz, se gostou, então pode! O espelho é seu amigo. Sentiu-se bem? Leva! Há problemas demais por aí e por isso você não precisa entrar em conflito com o seu corpo ou com aquela peça que tanto amou.
A primeira pessoa que precisa ser agradada na hora de se vestir é você, e a diversidade de opções de hoje em dia nos dá uma liberdade infinita. Existe coisa melhor que encontrar seu estilo e ficar loucamente apaixonado por si próprio?
marcia jorge |
Reforço que um profissional pode sim dar boas alternativas, aprimorar e promover autoconhecimento, o que é totalmente diferente de entupir a cabeça dos clientes com regras limitantes. Impor ditames é pura violência .
Está provado que programas de televisão, como o Esquadrão da Moda, do SBT, por exemplo, que jogam toda a roupa fora e não respeitam o valor emocional das peças, não funcionam: em menos de um mês, a pessoa volta para o seu estilo base e – pior ainda - se arrepende por ter participado. Nota-se que nas atrações televisivas desse tipo o que menos importa é a essência, a vontade e as demandas dos participantes.
Sinta-se livre para se amar e experimentar as suas várias versões. Regras funcionaram lá atrás para vender livros, revistas e cursos> Mas eram outros tempos. Hoje, absolutamente ninguém tem o direito de lhe impor sob a farsa de "eu sei o que é melhor para você".
Não se sinta aprisionado por regrinhas. Você é único demais para caber em caixas de gente que nasceu com pernas curtas, muito busto, sem bumbum, idade avançada, blablabla. Por isso, quando alguém me pergunta se pode ou não pode algo na moda, respondo o seguinte: "o que não pode é ser infeliz"!
Texto de Marcia Jorge, formada em marketing e psicologia, consultora de moda e stylist, que defende o consumo consciente e, principalmente o uso da moda e da imagem para melhorar a qualidade de vida e a auto-estima. Saiba mais acessando o perfil no instagram - @marcita973
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