Voltar-se para uma gotícula de água sobre a pele e chamar atenção para o
tempo que nos cerca. Tomá-la como uma ferramenta para explicitar o desejo por
um ritmo orgânico, avesso à agitação do mundo contemporâneo e da vida nas
grandes metrópoles. É este o norte de Ligne [Linha], obra que
sintetiza e abre Instrumentos, exposição do franco-tunisiano Ismaïl
Bahri que o Espaço Cultural Porto Seguro recebe
entre 22 de maio e 22 de julho.
Assinada por Marie Bertran, curadora independente, e por Marta
Gili, diretora do Jeu de Paume, de Paris, a exposição reúne nove videoinstalações
do artista visual. Os vídeos da exposição voltam-se para movimentos e elementos
singelos: a veia pulsa, a linha separa, a mão amassa, o vento sopra, o fogo
queima. Água, papel e tinta transformam-se de objetos a sujeitos protagonistas.
Os trabalhos ganham força pelo enredo que se estabelece entre eles
– diálogos acerca de temas como memória, território, pertencimento e
envolvimento, sempre mediante a exploração de uma cartografia afetiva pessoal.
A sobriedade da mostra pode causar certo estranhamento. “Um dos pontos fortes
do trabalho de Bahri é que ele prende a atenção. O olho procura por pistas ou
sinais e se esforça para encontrar uma maneira de compreender a imagem,
enxerga-a como um enigma a ser resolvido”, enfoca Marie Bertran.
Muitas vezes tênues e efêmeros, os
fenômenos observados sob as lentes do artista nos obrigam a ajustar nossa
percepção e o alcance do olhar. A ausência de som em muitos dos trabalhos conduz o visitante a uma jornada interior.
Descomplicação
“Valorizo em meu trabalho a busca pela simplicidade. O desafio está em,
justamente, arranjar uma maneira de como expor uma questão pessoal para tratar
um problema que é de todos”, esclarece Bahri. Nesta empreitada, dispõe-se a
investigar, de modo extenuante, objetos, escalas, ângulos e linguagens.
“A obra de Ismaïl Bahri tem uma atuação potente e transformadora.
Ela opera a partir de elementos muito sutis, mas que em seus trabalhos, passam
a ser instrumentos de conexões inesperadas”, afirma Rodrigo Villela, diretor
executivo do Espaço Cultural Porto Seguro.
Um dos trabalhos que sintetiza e abre a exposição é Ligne
[Linha], onde apenas a água é usada como ferramenta de exploração, reagindo
às batidas do coração. Devido às suas propriedades ampliadoras, reluzentes e
vibratórias, atua como um meio sensível às menores intensidades que atravessam
o corpo. A gota permanece na superfície, mas sonda, por capilaridade, uma
interioridade subterrânea.
Outro destaque é o 3. Revers [Reverso/Inverso/Avesso] Através do processo simples e
repetitivo de amassar e desamassar uma página de revista, o vídeo traz à tona
noções de desintegração, reprodução, transmutação e impermanência. Em um
movimento cíclico incessante, a imagem desaparece pouco a pouco: liberta-se do
papel, transforma-se em pó e marca as mãos do artista – resultado do contato
repetitivo e da acumulação residual de calor e informação.
Serviço
Abertura: 22 de maio,
a partir das 19h
Período: 23 de maio até 22 de julho
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h; domingos e feriados, das
10h às 17h
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